2010/06/24

Só vos digo...

... está a ser extremamente difícil trabalhar desde sexta-feira!!!
 
(quem me viu, e quem me vê)

2010/06/21

The birds and the bees

Chegadas a casa, eu e a Maria lemos 2 historinhas e depois sentamo-nos no sofá a ver desenhos animados (manecos). Na minha pose de relax sobressai a minha bocha, aka pança, pneu, barriga.
A Maria desvia a atenção da televisão, levanta-me a t-shirt e diz:
"mamã bebé baíga!"
"Não Maria, a mamã não tem bebé na barriga."
"Tem tem" diz com um ar muito seguro.
"Não tem nada!" e pronto a conversa ficou por ali.

Depois do jantar, estavamos já na fruta, diz ela:
"A Baía tem bebé baíga!"
"Não tem nada! O que a Maria tem na barriga é massinha e banana"
"Na nã, Baía bebé baíga. Dois! Bebés masha, nana na baíga. Baía papou bebé naaaaaaaande. Ashim, tchhhhh."

Há uma mamã da sala da escola dela que está grávida. A vizinha de baixo está grávida. A criança questiona os porquês da vida. O resultado está à vista.

2010/06/18

18 de Junho de 2010

No dia em que fazemos 13 anos juntas, encontramo-nos sentadas na sala de espera da Loja do Cidadão. As pernas tremem, o coração migrou para outro sitio, mais perto da boca talvez e lutamos para manter o pequeno-almoço nos nossos estômagos. Enquanto esperamos que chamem pela nossa senha, pensamos quando foi a última vez que sentimos aquele frio no estômago, aquela eminencia de vómito (sensação tão romântica). Quando a Lu foi chamada ao Tribunal de Menores para averiguação da paternidade, quando naquela manhã cedo fomos para o hospital para o nascimento da Maria, cada vez que íamos a BCN para mais uma consulta, mais uma tentativa.
Um bip anuncia que chegou a nossa vez e eu juro que de repente as minhas pernas pesaram chumbo.
Sentámo-nos em frente à senhora do registo. Está carrancuda, o último utente não saiu de lá muito satisfeito.
"Ai ai
", penso eu.
"Gostariamos de marcar a data do nosso casamento." diz a Lu.
Nada. Nem um pestanejo.
"Espere lá, eu conheço-a! "Diz a senhora.
"Ai ai", penso eu.
"Fui eu que registei a sua menina" e abre um sorriso enquanto fica toda corada.
Rimo-nos todas "Que giro!".
"Já deve estar grande! Tem que idade agora?"
"2 anos"
E pronto, a partir daí foi sacar dos cartões do cidadão, ela tem que pedir a activação informática do nosso cartão, seja lá o que for que isso significa.
"Então e já têm dia e local?
"
"Sim, gostaríamos ver se é possível marcar para dia 21 de Agosto e temos um local em vista, falta ainda confirmar."
"Ora deixe cá ver na agenda... já devo ter qualquer coisa para o dia 21 de Agosto... flip flip flip, olhe, não! Ainda está todo livre! Querem a que horas?"
"Se for possível, gostaríamos por volta das 16h"
"Pronto, marcado (escreve na agenda) ... casamento da Lu e Nina... dêem-me os vossos números de telefone, aqui está o meu. Quando tiverem a certeza do local dêem-me um toque para formalizarmos tudo."

Saímos de lá com o sorriso mais estúpido do mundo, aquele que muitas vezes esqueço que tenho.

"Vês Nina, vês como somos sortudas?"
"Nunca tive sorte até te ter na minha vida."

Já só pensamos em convidados, vestidos, ementas, decoração, mesas, cadeiras, quintas e toda a parafernália. Felizes, meu Deus, como nunca pensei que um casamento me fosse fazer. No fundo tinha uma gaja que ansiava casar dentro de mim, e pelos vistos não sabia.


VAMOS CASAR!

PS- Amig@s que nos lêem. Muitos ainda não foram convidad@s, pois ainda estão muito detalhes por apurar. Assim que nos for possível iremos contactá-l@s já com todas as informações.

2010/06/01

We are family - Blogging for LGBT Families



É curioso parar hoje para pensar no nosso percurso. Em 1997, pensávamos que esta relação não teria futuro, tínhamos sobretudo muito medo deste "novo mundo desconhecido" e (particularmente eu) debruçavamo-nos sobre todas as dificuldades que teríamos que enfrentar enquanto lésbicas. Lembro-me que uma das minhas principais preocupações residia em saber que a Lu sempre quis ser mãe, e que a nossa relação impossibilitava a concretização desse sonho (pensava eu). Lembro-me de dizer-lhe que não era justo que ela tivesse que abdicar dele.

Começámos a viver a nossa relação dia-a-dia, passo-a-passo a construir o nosso futuro, a nossa própria definição de "nós". A dado momento tornou-se óbvio que "nós" era algo para ficar. E então "nós" comprámos casa, "nós" adoptamos 3 gatos.

Em 2005, "nós", após 8 anos de muito pensar sobre o assunto, decidimos que não tínhamos que abdicar de nenhum sonho, e assim na impossibilidade de o concretizar em Portugal, encaminhámo-nos para Espanha para tentarmos engravidar (isto é giro de dizer - pobre Lu, ela é que teve as cãibras, as pernas pesadas, a enoooooorme barriga e eu aplico o plural!). De 2005 a 2007 foi um longo processo de injecções hormonais, exames, viagens a Barcelona, uma gravidez à primeira, um aborto e mais tentativas, sempre "mais uma vez", "mais uma vez" até em 2007 finalmente, quando o desespero era mais que muito, a Lu ficou grávida. Sustemos a respiração durante 5 meses, temendo que algo voltasse a acontecer até que todas as análises confirmaram que a bebé estava bem.

Assim, a 29 de Janeiro de 2008, nasceu a nossa mais-que-tudo Maria Carolina. Levei tanto tempo a imaginar como seria ter uma pequena criatura a correr pela casa fora, a puxar-me as calças enquanto eu cozinhava e agora quando paro para pensar, não consigo imaginar as nossas vidas sem ela.

Hoje, dia 1 de Julho, é o Blogging for LGBT Families Day. É também o Dia da Criança em Portugal (O Dia Mundial da Criança, oficialmente, é 20 de novembro, data que a ONU reconhece como Dia Universal das Crianças por ser a data em que foi aprovada a Declaração dos Direitos da Criança, Wikipedia). Ontem, alcançamos o direito a casarmos em Portugal, pois a Lei 09/2010 foi publicada. É muita efeméride junta!


A grande questão do momento é: que raio vou eu vestir no casamento???

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It´s funny to stop and thing about our path, today of all days. Back in 1997, we thought this relation had no future, we were very scared about this "new and unknown world" and - specially me- gave a lot of thought about all the difficulties we would have to face, as lesbians. I recall that one of my main concerns lies on knowing that Lu always wanted to be a mother, and that our relation made that dream impossible to come true (so I thought back then). I told her day after day that it was unfair that she had to give up that dream.

So we started to live our relation on daily base, step-by-step, building our future, our own definition of "we". At some point, it was obvious that "we" was something to stay. And so, "we" bought a home, "we" adopted 3 cats.

In 2005 "we" - after given a lot of thought about it- decided that we didn't had to give up any dream, so facing the impossibility of achieving it in Portugal, we ahead up to Spain to try to get ourselves pregnant through Anonymous Donor Insemination (its funny to say "ourselves" - pour Lu, she was the one with cramps, heavy legs and a huge, huuuuuge belly). From 2005 to 2007 it was a long path of hormonal injections, exams, trips to Barcelona, and always "one more time", "one more time" till 2007, when finally, we were getting pretty desperate. Lu got pregnant. We hold our breaths for 5 months, fearing that something wrong would happen again, till that all tests confirmed that our baby was all right.

So, on the 29th of January 2008, our sugar-honey-bunny Maria Carolina was born. I had always tried to imagine how it would be, to have a little one, running up and down at home, and pulling my jeans while I was cooking, and suddenly I stop, and realize that now, I just can't imagine our lives without her.

Today, 1st June, it's Blogging for LGBT Families Day. It's also Children's Day, here in Portugal. And yesterday, the 31st May, we achieved the right to get married since the bill 09/2010 was published. In 5 days time we can start all the paperwork. This is a whole lot of events!!!


The big question now is: What the hell am I going to wear for my wedding???