2011/02/28

O lugar das coisas

Hoje alguém me disse que sentia muito bem em nossa casa, bastante à vontade. Escolhemos criteriosamente quem deixamos entrar. Basicamente, quem alguma vez se sentiu pouco à vontade em nossa casa... das duas uma: ou ainda não pertencia, ou já não pertencia aqui.

2011/02/24

Ontem fez 3 anos que a minha mãe morreu. À semelhança do que já sucedeu no passado, parece que a data se torna maldita e que o que de mal me pode acontecer se conjura para esta altura, para este dia.

não fui ao cemitério. não consegui, não tive tempo, aliás nunca tenho. sei o que parece para quem não vê as minhas flores lá. pouco interessa. o local para adorá-la não é onde jazem os seus restos. é no meu coração, onde vive todos os dias, todos os segundos da minha vida. na minha carne e anémico sangue.

2011/02/23

Costuma-se dizer "é um trabalho sujo, mas alguém tem de o fazer." O prazer que se tira da execução de trabalhos sujos... é um bom indicativo do carácter da pessoa em causa.

2011/02/22

Dou por mim a pensar no sofrimento e no poder que lhe atribuímos, de nos fazer crescer, aprender... enfim, evoluir. Bullshit. Entendo que evolução é um conceito positivo.As pequenas (e principalmente as grandes) catástrofes pessoais não me fizeram evoluir. Perdi mãe, pai, irmãos, perdi coisas, pessoas. Passei algumas provações nestes 35 anos. Na passada década era (mais)positiva, crente, traçava planos, empática, inocente. O sofrimento tornou-me menos inocente, para não dizer desconfiada, sem fé, negativa, amarga, e menos empática. Dura. Considero que não há propósito nisto. Não é como o ditado que diz: "o que arde, cura". É mais: o que arde, cicatriza, caleja. Mas nas cicatrizes perde-se a sensibilidade, adivinham-se os tempos húmidos e frios do Inverno.

O sofrimento é absolutamente desnecessário. Assim como os packs em que é muitas vezes fornecido.

Ou então sou só eu, que sou de uma resiliência muito próxima de zero. Talvez tenha visto demasiado MacGyvers's.

Sessão parentalidades LGBT





Por motivos que são alheios à minha vontade não vou poder ir. Nem ao encontro em Cáceres. Fica a divulgação para quem tiver possibilidade de ir. Bom encontro.

2011/02/18

I'm freaking out

I really am.

Tornem-se dadores de medula

Não vou sequer postar aqui fotos para apelar ao vosso bom coração. Gostava que não fossem como S. Tomé, que precisassem de ver para crer. Se pesquisarem na net, poderão ver por exemplo que o Duarte Guimarães, de 11 meses precisa de um dador de medula compatível pois sofre de um tipo de Leucemia. Mas não é só o Duarte. Há muita gente à espera. Miúdos e graúdos. Eu não posso ser dadora, o meu sangue, medula e orgãos não servem para ninguém sem ser eu. Mas gostava de apelar a quem tem saúde para dar (e não vender) que a partilhe com quem precisa.

2011/02/17

Suporte visual

retroescavadora

abre-valas



Não é uma retroescavadora . É um abre-valas.

Hoje, nos meros 15 min que demoro a chegar ao trabalho apercebi-me do quão perto estive para cair no karma da minha irmã. O facilitismo que reside em afundar-me numa lamuria do que não foi, dos dramalhões familiares, do trabalho e patrão que não gosto, dos projectos que não tenho como/coragem-para executar, da difícil relação com os outros estava a levar-me para águas turvas e é bem sabido que em águas turvas, pouco se vislumbra. Felizmente em pleno Inverno, no meio de granizo, vento e saraivada, o sol brilha em nós e sinto em todas as minhas células que SOU. Sou feliz, realizada, amada, amante, mãe. Ainda que o berço me tenha ensinado que não deveria vangloriar-me de estar bem na vida, isso não se faz, o que fica bem é dizer "cá vamos indo" ao ponto de sentir CULPA (!) das metas emocionais ou financeiras, estou a lutar para me libertar, para me desformatar.

Vivo no aqui e agora. Quero estar presente para quem me ama, para quem me tem por companheira, quem precisa de mim para crescer . O tempo passa demasiado rápido e não quero olhar um dia para trás e ver que estive embrenhada em "ses" e "porquês" e não estive lá para elas. A Lu e a Maria merecem melhor. Eu mereço melhor.

E o trabalhão que isto dá, hein? É como andar na corda bamba. Em Outubro o que suei para dizer ao meu pai que tinha comprado um carro novo. Quase que lhe pedi desculpa!

C'a impertinência

Noite mal dormida, endredon que fugia, picadas nas pernas, pensamentos a mil. Bahh. Agora a bebé está impertinente.

2011/02/16

Sair de casa debaixo de granizo e rajadas de vento. O tempo nublado como se estivéssemos ainda debaixo dos cobertores. Chego ao escritório e a luz parece-me muito forte, contrastando com o escuro lá fora, quase que me encandeia. A música que sai do meu computador não é suficiente para abafar a presença dos outros. Ponho os auscultadores. Definitivamente, hoje não queria ver ninguém. Sozinha em casa. Yep, isso é que era.

2011/02/15

My Valentine's...





... was all about porn. Food porn.

(o que o meu Amor é capaz de fazer enquanto dou banho e visto a Maria, para me surpreender)

2011/02/09

Há uma possibilidade... que mesmo ténue me deixa tão feliz! :D


Beach Boys - Wouldn't It Be Nice (1966)
Enviado por Salut-les-copains. - Explore outros vídeos de música.

2011/02/08

Nunca vos aconteceu ter muita coisa para aprofundar, posts belíssimos e introspectivos para comentar e não conseguirem ter o tempo para o fazer? Que raios, isto não é coisa que se faça a correr nem de ânimo leve.

2011/02/07

Estou assim meio...

... curto circuito. Segunda-feira what else?

2011/02/04

Boas Notícias!

Uma vez mais obrigado à Madalena pela divulgação deste evento promovido pela Amplos:

Famílias LGBT – Elisabet Vendrell e Mercè Falguera – estarão em Portugal dias 26 (Lisboa) e 27 de Fevereiro (Porto) para falar de Parentalidades LGBT

Aguardo ansiosamente mais informações sobre este evento no site da Amplos. A não perder!

Descobri recentemente o site da ILGA dedicado aos assuntos da famílias homoparentais: Famílias Arco-Irís . Um excelente site, que muita falta fazia por terras lusas.

Ao explorar o site hoje, descobri uma coisa que me deixou, como a música da Shakira (loca, loca, loca): Quarto encontro de famílias lgbt, em Cáceres, Espanha, evento aberto também a famílias portuguesas. Informações no site Famílias Arco-Íris ou aqui. Eu estou em pulgas. Eu quero ir!!!

A festa de aniversário

Confesso que estava nervosa. Muito. Esta festa ia ser da Maria. Ponto final. A primeira festa em que teríamos os amiguinhos da escola dela lá em casa. E os pais deles. Tenho este tempo andado sem saber ao certo o que se passaria na cabeça dos pais. Claro, cruzamo-nos nos corredores, nas festas da escola, mas é sempre de raspão, os contactos são muito superficiais...

Assim, fizemos os convites. Sentámo-nos com a Maria e pintámos, recortámos, colámos.
"Para confirmares a tua presença, contacta com as minhas mamãs:
Nina - 9********
Lu - 9********
"
Ok, para os mais distraídos, a coisa já está preto no branco. Agora quem quer vai, quem não quer, não vai. Entregámos os convites na escola e passado um par de dias, as mamãs e papás dos coleguinhas da Maria começaram a confirmar, perguntar direcções, etc.

Tirámos um dia de férias para fazer tudo na véspera. Levámos dia e meio de roda da cozinha. Bolos, bolinhos, gelatina, pudim, mousse de chocolate, quiches, tortilha, salada de fruta, as belas das sandes de pão de forma. Fizemos o bolo de aniversário da Maria de dois andares: o debaixo de baixo Red Velvet, o de cima de chocolate. Decorámos. Enchemos o tecto de balões. Rosa e branco, maioritariamente, enchidos com hélio, com fitinhas rosa e brancas. 39 balões. Enchemos a casa de gomas, rebuçados de fruta e batatas fritas, como manda a sapatilha. Para nenhum petiz botar defeito. A parafernália exigida pela Maria toda a postos: apitos (linguas-de-sogra), chapéus e ainda umas brincadeiras que arranjámos (não me lembro o nome).



À hora combinada começaram a chegar os convidados. A Maria estava radiante por receber os amiguinhos em casa. O primeiro de todos até flores trazia. Quase que derreti ao ver o puto todo empertigado a subir as escadas e a segurar o ramo. Um após o outro, chegaram todos os que confirmaram. 11 crianças no total, cada um acompanhado pelo menos por um dos pais. O preferido da Maria, bem giro por sinal, vem com uma mais valia: o mano, um bebé de 1 ano que faz as delicias da Maria.

As conversas começaram a fluir, em redor das crianças, das dificuldades em conseguir infantário, das manhas da criançada. As mamãs reúnem-se num canto a falar de gravidez, das artimanhas para tentar conceber uma menina. A educadora da Maria, que também veio mais o seu filhote, começa a mandar-me bocas dizendo que está na hora de dar um mano à Maria (a Maria pede todos os dias um mano, a maior parte das vezes diz que tem um mano, mas que está "lá ao fuuuuuuuundo!). Sorriu Sorrio. Alguém pergunta sobre as inseminações. Respondemos às perguntas.

Os miúdos brincam, o quarto da Maria está de pantanas, mas quero lá saber. Às vezes pegam-se pela posse de um brinquedo, ou pela abertura das prendas (que se quer comunitária, para que haja paz no mundo... pelo menos naquele metro quadrado do mundo). Às tantas a Maria interrompe uma conversa que eu estou a ter com outras mães. Chega ao pé de mim muito aflita: "Mãe, mãe... anda cá VER!" Vou com ela até ao seu quarto. Vira-se para mim e diz: "Olha pa isto!!!" abre os braços mostrando o cenário dantesco do quarto dela e pousa as mãos nas ancas. Não há um sitio onde pousar um pé sem pisar algo. Rio-me e digo-lhe "Não faz mal Maria, depois da festa arrumamos. Agora vai brincar com os teus amigos."

Chega a hora do bolo. Colocamos-o Colocamo-lo numa mesa pequenina. A Maria e os amiguinhos rodeiam a mesa, cantam os parabéns entusiasticamente e alguns até ajudam a soprar as velas. Por onde olho, só vejo sorrisos. Tiro uma fotografia mental do momento. De seguida vamos partir o bolo e a Maria insiste em ajudar a distribuir as fatias. É ela que coloca um garfo em cada prato. As pessoas elogiam o bolo. Há quem nos pergunte onde comprámos. Incho o peito (sim, que eu sou muito vaidosa dos nossos dotes) e digo que fizemos tudo. Que tudo o que ali está, fizemos nós.

A festa começou às 15h. Passadas 3 horas ainda ninguém deu sinal de se querer ir embora. Os adultos começaram a abrir alguns balões, aspirar o hélio e a falar como se fossemos fossem um dos chipmumks. Rimo-nos até às lágrimas. A seguir os putos decidem saltar para cima do puff. Fico por ali a controlar as quedas (e adivinhar umas belas dores de costas para mim, no dia seguinte). Um pai enquanto vê o filho a atirar-se para cima do puff diz-me: "É preciso coragem. Para fazer uma festa para miúdos de 3 anos em casa. Eu não tive coragem. Comprei um bolo e levei para o infantário." Quando os últimos convidados saíram eram por volta das 21h.

Ainda custa a acreditar como foi boa a festa. Lotação esgotada. Cerca de 35 pessoas (ou mais) simultaneamente na nossa casa foi um record tipo quantas pessoas cabem num Twingo. Ter aqueles pais ali, a elogiarem a nossa casa, a nossa comida, até fotografias nossas... sentir a aceitação por parte deles, ver como se divertiram, não foram ali apenas cumprir um frete "agora fico aqui uma hora ou duas e depois vamos embora" foi uma sensação indescritivelmente boa. A alegria, a expectativa, a loucura na cara da Maria fez valer tudo.

Adenda - postar às tantas da madrugada, tem destas coisas: erros. Estão aí em cima, bem marcados. Já me flagelei e vou escrever cada palavra 10 vezes como na primária.