2010/10/25

Memória de peixinho de aquário

Durante o fim-de-semana e noites da semana em casa, com a minha Lu e a Maria a cirandar por ali, balbuciando as suas eternas conversas, dou comigo a pensar que afinal o trabalho não é assim tão mau, que "it's all about bringing home the bacon", que isto é que é ser crescida, que eu tenho a mania da independência mas que se calhar isto é qualquer coisa mal resolvida minha, que afinal não sou mais que qualquer outra pessoa e que há que trabalhar, aturar as merdas e no fim do dia voltar para casa, para os meus amores, para a vida que gosto, para a casa que gosto.

2ª feira regresso com a resignação positiva (se é que isso existe) do vamos lá kick ass. E depois... depois começam os telefonemas do patrão. A prepotência, as ameaças veladas (não direccionadas a mim, ele já não se atreve, dirige-as a outros mas de uma forma que se eu quiser enfiar a carapuça, ela também me serve), o "you MUST" para todos os impossíveis que lhe apetece, a eterna sensação que sendo uma pessoa que faz acontecer o impossível, nunca será o suficiente, o trabalho nunca ficará bem feito e quando fica, é como um boomerang bem atirado, ao qual voltei as costas após o lançamento e no seu regresso atinge-me em plena nuca. Viver com uma ansiedade permanente, sem ter a sensação de missão cumprida. Diz-me a minha Rute para encarar as coisas de outra forma "pense que conseguiu e regozije-se por isso!" Posso ser turra e resistente a este pensamento positivo, mas não consigo... estou sempre na retranca. Tenho vindo a ficar dormente, algo indiferente, apenas reajo sob pressão, os sonhos vão pelo cano, já não sei sequer o que quero fazer, tenho falta de perspectivas, deixei de acreditar que aqui mude alguma coisa e o pior é que à conta da crise que se sente, deixei de acreditar nos meus sonhos.

E no final do dia, eu é que sou o bacon, estou a ser fatiada devagarinho, mas regresso a casa e esqueço tudo, jantar para fazer, histórias da Maria, amor da Lu, gatos, casa confortável, carro novo em perspectiva... e bacon com ovos é muito bom.

3 comentários:

Papoila e Orquídea disse...

Querida Nina,

não sei o que é estar na tua posição, mas conheço a sensação do 'nunca sermos suficientes'. Do trabalho nunca acabar (para haver um intervalo e podermos parar e pensar 'este já está, venha o próximo'), da ansiedade constante porque há sempre mais pra fazer ou há sempre algo que poderíamos ter feito melhor. De sentir que a nossa vida está a ser sugada pelo trabalho... e não resta energia para aquilo que dantes nos deixava tão felizes. Não resta energia para lutar pelos sonhos... ou até para simplesmente acreditar neles.

Mas tu já chegaste ao que é fulcral: para quem regressamos depois da tempestade. E quando há amor há uma corda que mantém os sonhos pendentes no poço, e não os deixa nunca cair. Eles só estão no escuro, mas estão lá.

Hás de passar por isto e sair vitoriosa... que não espero mais nada de alguém que já lutou TANTO e conseguiu TANTO... e que para mim é um enorme e significativo exemplo de vida. De quem eu me orgulho muito, apesar do tanto que desconheço.

Abracinho e força.

Beijinho para a Maria e para a Lu!

Papoila

cegonhagarajau disse...

Fiz hoje mesmo um post acerca dessa "resignação", se bem que o problema por aqui não é o boss, mas sim a "matéria prima" (os alunos).
Concordo que o que de facto conta é que temos quem nos espere em casa e que esse alguém nos dá alento para suportar tudo o resto.
Mas também concordo que é, no mínimo, desanimador sentir que temos de desistir de algumas coisas e suportar outras porque precisamos que o "pilim" caia na conta ao fim do mês.
Mas vou-te dizer o que o meu mano velho me diz e que me dá forças: - "Tens quem te ame não tens? És feliz, não és? Então considera-te afortunada, abstrai-te do resto e desfruta da vida."
Força!

Muita História para contar... disse...

Eu entendo o que lhe meche, embora não tenha até o momento sentido e vivido tantas coisas. O que posso dizer é que a pressão de um zilhão de coisas está aí pra todos nós. Estudo, estudo, estudo para o futuro. Trabalho e trabalho para se manter em pé.E a verdade é que fica de vez em quando a angústia pelos sonhos que não estão tão na ordem do dia. Com tudo, o que importa é voltar bem pra casa, para os braços que nos faz esquecer um pouco esse turbilhão de blás blás... Força dona moça!
Abraço!