A propósito deste post da Açucena, veio à minha lembrança a nossa experiência. Achei curioso empregares o termo “exibicionistas”. Aviso à navegação: não quero dar nas orelhas de ninguém.
Este mundo em que vivemos quer fazer-nos crer que não temos direito a afagar o rosto de quem amamos, a olhar nos olhos com enlevo, a repousar a mão em cima da mão da nossa companheira em cima da mesa de um qualquer café. Estes são apenas os gestos mais inocentes do mundo. Que falar então do beijo, do abraço?
Vivemos talvez tantos anos quanto vós, resumindo-nos a nós próprias, e aos nossos amigos hetero a quem contámos. Que bem que se está no recesso do lar, pensávamos. Aqui não há medos, não há olhares curiosos. Habituamo-nos assim: em casa vivíamos em pleno, nos locais públicos, contínhamos os gestos. OS GESTOS. Sabem aqueles gestos que quando alguém ama, é praticamente impossível de conter? Pois, imagino que não conseguíssemos conter todos eles, a julgar por algumas cabecinhas que nos disseram mais tarde “fogo, estava mesmo na cara que estavam apaixonadas”.
Com os amigos (hetero) convivemos anos, também nos contendo. Imaginava que provavelmente a sua aceitação seria condicional, que se lhes déssemos “imagens” que provavelmente pensassem “yack” e ai de nós querermos chocá-los. Não sei se alguma vez empregámos o termo “exibicionismo” mas se não o usámos, seguramente usámos outro parecido e igualmente preconceituoso para definir carinho. “Nós não sentimos necessidade de exteriorizar, exibir, ostentar, etc o nosso amor. Vivemo-lo bem entre paredes.” Bullshit!
Quando há sensivelmente 2 anos atrás, começámos a conhecer pessoas LGBT’s pela mão da abençoada rede ex-aequo, foi muito complicado para nós nos soltarmos. Também para nós, parecia que o interruptor do “aqui podemos” não descia. Posso quase dizer que os primeiros gestos públicos foram quase que “forçados” por achar que era uma estupidez continuar assim. Reunir-me com eles nos cafés era algo complicado, pois tinha sempre a sensação que alguém poderia estar a reparar em nós e nas conversas. A pouco e pouco fomo-nos soltando. E após alguns meses, os nossos amigos hetero (alguns) puderam presenciar pela primeira vez um beijo nosso.
Hoje, continuamos algo reservadas mas mais soltas. Às vezes até nos surpreendemos “mas nós dissemos ou fizemos aquilo naquele sítio?” E rimo-nos.
Hoje sei que aceitarmo-nos é algo que se faz em duplo sentido: de dentro para fora, e de fora para dentro. Eita! Tanto chão para palmilhar ainda!
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