
Se a minha mãe tivesse sido lésbica...
Seria uma mulher de trabalho, como sempre foi. Não teria que prestar contas e dever obediência a um marido prepotente e autoritário que só lhe deu verdadeiramente valor após 35 anos de casamento.
Não a teria encontrado inúmeras vezes a ensaiar discursos - que nunca chegava a ter - ao espelho da casa de banho. Quando alguém lhe pisasse os calos diria de sua justiça e pronto.
Seria dona da sua vida. Não lhe aparecia um carro à porta acerca do qual, a sua opinião nunca foi tida nem achada.
Quando os filhos começassem com ciumes parvos uns dos outros, intrigas e afins, provavelmente daria um par de berros a cada um e diria para nos entendermos. Não seria obrigada a ficar calada, ou falar às escondidas, porque "há coisas que não devem ser alimentadas, não devem ser faladas", estabelecendo-se o culto do "segredo".
Quando os filhos se casassem, daria (como deu) cestas e cestas de viveres para encher a dispensa, na difícil fase que é o começo de vida a dois. Às claras porém. Sem ter de esconder do marido.
Não teria que governar a casa com uma magra mesada de 20 contos, mesada essa que só muito recentemente foi actualizada. Não teria que pedir dinheiro para comprar uma roupa, ou comprar uma prenda para os filhos ou netos.
Teria arranjado um tempo para, de vez em quando, ir passear com os filhos à doca, ver o pôr do sol, como idealizava em solteira. Em vez de ficar em casa, fazer o jantar, comer, deitar as crianças e ainda ir fazer trabalhos domésticos até se ir deitar.
Não se teria desgastado tanto, fisicamente e emocionalmente, para poupar o marido.
Em relação aos filhos? Amaria-os muito, defenderia-os como uma leoa. Cometeria erros como qualquer mãe. Isto manter-se-ia inalterável.
Este post resulta de uma brainstorm individual, provocada pelo cartaz da campanha publicitária anti-homofobia da ILGA. De facto mudava muito. Mas nunca o amor que nos une.
PS- sim, tenho perfeita consciência que este post revela o quão zangada eu estou com o meu pai.