A propósito deste post, que provocou este comentário, as rodas perras do meu cérebro começaram a rodar e ranger. E por terem rodado pra xu-xu, divido o que era suposto ser um post, em dois posts.
Acho que ainda sou da geração em que o Lucky Luke tinha um cigarro pendurado nos lábios em vez da tão politicamente correcta palhinha (reparem que poderiam ter utilizado a opção do palito, e o final não seria tão feliz). Sou da geração em que o cowboy da Malboro ainda passarinhava por aí. Sou da geração de um não mais acabar de filmes de índios e cowboys fumadores às tardes de sábados e domingos, seguido da fiel reprodução de todo o enredo no meu quintal –eu, o meu cavalo e os meus amigos imaginários.
O acto de fumar ficou assim profundamente marcado em mim, como algo de profundamente cool; o mesmo que dizer do alto da maturidade dos meus 30 *aham* profundamente sexy. Todo o ritual envolvido no acto tem algo de electrizante.
Analisando o porquê, apercebo-me na verdade que pela mesma ordem de ideias que me levam a afirmar isto nesta cesta cabem também: assentar tijolos, esculpir um pedaço de madeira, caiar paredes, restaurar portas velhas, construir galinheiros, fazer um desenho, virar e revirar uma carica nas mãos enquanto se bebe uma cerveja e pensa-se na vida... e fiquemo-nos por aqui senão levava a noite toda nisto. O ritual encanta-me. A languidez dos gestos. A meditação. Em última instância, fumar é sexy porque naquele gesto há reflexão, mistério, introspecção.
Lá em casa ninguém fumava. Tive uma adolescência impoluta. As crises de identidade na universidade levaram-me a fumar. Não fumava publicamente, porque me envergonhava. Gostava de fumar às noites, nas longas noites de estudo na janela do 8º andar, enquanto fazia uma pausa, observava a noite e deixava-me invadir pelos meus pensamentos. Após de um ano, com vários interregnos, deixei de fumar. Não compensa de maneira nenhuma. Mas tenho que confessar que ainda é apelativo, especialmente em alturas de maior actividade cerebral em que preciso de arrumar as ideias.
E todas as vezes que cedo ao apelo, que agora é mais refinado que os Peter Stuyvesant Extra Light, juro que é a última vez. É que juro mesmo!
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