Passado sábado, o dia estava tão bonito e a correr tão bem, que decidi pegar na minha Lu e ir passeá-la a um sítio que sempre adorei, mas aonde já não ia há imenso tempo. Fomos passear a Faro, à cidade velha. Costumo ir lá ocasionalmente, mas apenas de passagem, nada a ver com as passeatas que lá dava durante a minha adolescência, na companhia da minha melhor amiga e munidas das nossas bicicletas e câmaras fotográficas, sempre prontas a registar um detalhe mais pitoresco. Passávamos horas por aquelas ruas, imaginando qual daquelas casas gostaríamos de restaurar para nossa morada.
Assim, lá fomos nós, eu e a Lu, eu conduzindo-a pelo meu percurso, Arco do Repouso em direcção à Galeria Trem, onde vimos uma exposição de pintura em três dimensões, e de seguida em direcção à Galeria Arco, que era a minha principal meta. A galeria Arco sempre foi a minha preferida. Mesmo em cima das muralhas, a namorar a ria formosa, é o melhor ponto da cidade de Faro para se ver um pôr-do-sol. E como era fim de tarde, era isso que eu queria mostrar à Lu: o meu pôr-do-sol favorito. Ao chegarmos lá deparamo-nos com o portão fechado e uma placa a indicar o horário de funcionamento do Museu dos Brinquedos. Museu dos Brinquedos??? Então que é feito da Galeria Arco? Rumamos então em direcção às Portas do Mar, para admirar o pôr-do-sol no cais. O mesmo pôr-do-sol que queria ver mas uns quanto metros mais acima.
Vim de lá a matutar, quanto tempo teria passado desde que eu não ia ali. Chegámos à conclusão de que a Lu nunca tinha ido ali comigo. E nesse momento apercebi-me que pelo menos há 8 anos que não vou à Galeria Arco. E porquê? Porquê falhei em mostrar à Lu aquele sítio tão especial para mim, sobre o qual eu dizia: se fosse rica queria que a minha casa fosse aqui, com esta varanda enorme sobre a Ria Formosa. A Lu mostrou-me sempre todos os locais especiais dela…
Vi-me assim no início do nosso namoro, e apercebi-me que fiz tudo para fugir da minha terra, dos meus lugares. Que tive medo que as gentes da minha terra percebessem no meu olhar que eu estava apaixonada por aquela mulher. Que desde então só quis estar onde não me conhecessem. Nunca tive vergonha da Lu, e creio que posso afirmar que após superar a fase terramoto que foi descobrir este sentimento lindo, mas que questionava toda a minha formação, nunca tive vergonha do sentimento. Mas sempre tive medo de ser apontada na rua. De que a minha família viesse a sofrer por isso. Do enxovalhanço público. Por isso namorar era em casa. Onde era seguro.
Hoje penso numa Teresa e numa Helena, que dão a cara como pouc@s se atrevem. E agradeço-lhes, porque o gesto delas é mais um passo na conquista dos nossos direitos e espero que a cruz não seja demasiado pesada para elas. E agradeço a tod@s que no anonimato da comunicação social, mas no seu dia a dia, tornam-nos visíveis, dão um exemplo positivo e que pela sua maneira de ser e de estar na vida destroem todos os argumentos homofóbicos que nos prendem dentro das nossas paredes. Boa Sorte a tod@s!
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