Este fim de semana fomos ter com o pai ao campo. Não imaginas como tudo está tão florido. Os lírios brancos, os narcisos amarelos, os sparaxis que te ofereci à 2 natais atrás. A cãozoada está toda gorda, as favas bonitas. Tudo está como se lá estivesses. Parece incrível que não estejas. A prova que não estás lá é o pai. Nunca o vi assim no campo. Parado, sentado pelos cantos, encostado a uma árvore.
Não imaginas o que ele fez na semana passada. Ainda tinha leveda da tua última amassadura e apesar de nos termos oferecido para ir amassar, para a leveda não se perder, amassou ele sem nos dizer nada. A mana diz que ele chorou o tempo todo enquanto amassava. O pão ficou tão bom… só lhe faltava um bocado de sal, de resto, podia muito bem ter sido amassado por ti. Ele diz que parecia que estavas ali ao lado, a ensiná-lo. Sei que não podes ter estado ainda, mas talvez tenhas mandado alguém para ajudar.
Hoje à noite a Lu vai amassar os folares, e amanhã vai para o campo, com a mana e o pai, para os cozerem. Tentamos fazer o melhor para atenuar a dor do pai, mas sei que nada, nem ninguém te substitui. Umas vezes ele acarinha-nos e outras quase que nos enxota, como se tivesse medo que apaguemos sinais da tua presença. É difícil.
Eu estou bem, dentro do razoável. Tento não pensar muito, tento ocupar-me para não cair muito. A maior parte do tempo consigo. Excepto quando vou lá a casa, ou ao campo, ou estou/falo com o pai. Às vezes consigo até sentir-me feliz, por te imaginar num sítio bom, a ser cuidada,
Hoje farias anos. Esta noite sonhei contigo. Pedias-me em agonia água. Acordei assustada, mas tentei voltar a dormir. Queria sonhar contigo, mas outras coisas. Como me aconteceu com o JL, que nos meus sonhos encontravamo-nos na rua e me dizia que não tinha morrido e passeávamos por ali matando saudades. Queria encontrar um lugar nos meus sonhos para me encontrar contigo. Fazes-me falta.
Sem comentários:
Enviar um comentário