A esta altura, à 3 anos atrás, estava a despedir-me das minhas duas princesas para regressar para casa sozinha.
O parto, induzido porque a Maria não se decidia a sair, estava programado para dia 28. Passamos a tarde juntas, a Lu ligada a soro com pozinhos de perlimpimpim, a fazer piscinas no corredor do hospital, para sentir menos dores, para não estar deitada, para facilitar-acelerar whatever, o trabalho de parto. As enfermeiras, umas queridas, no meio da azafama iam deitando um olhar e um sorriso de quando em quando até que ao verem a regularidade com que a Lu parava e se encostava à parede, deram indicação para a Lu entrar para a sala de partos. Eram 20:30h mais ou menos. Eu tive que esperar cá fora no átrio mais ou menos meia hora para lhe administrarem a epidural.
O resto da noite foi intercalada entre estarmos sozinhas na sala de partos (que não imaginava tão pequena) e termos 3-4 pessoas de roda da Lu, todas com cara de "isto não vai lá assim, mas já agora aguenta-te e faz força na mesma, porque as salas de cesariana estão ocupadas". Durou este tango até cerca das 11:30h, quando a finalmente a mandaram para cesariana. Deixei a minha bata verde pendurada no cabide que me indicaram e voltei para o átrio.
Não tinha jantado (nem a Lu, que não podia). Nem me consigo lembrar se tinha fome, se pensei que era melhor comer algumas das barrinhas energéticas que tinha levada comigo, para evitar que me desse um piripaque hipoglicémico. Comi sem saborear algumas barrinhas, sozinha, sentada naquele átrio, num silêncio que nunca tinha sentido naquele hospital. Os meus ouvidos estavam a zunir, a adrenalina tinha feito o seu papel, mas agora descia a pique, tudo abrandava em mim, parecendo que passava uma eternidade.
Finalmente a porta abriu-se, mas era apenas uma enfermeira que sorri quando me vê levantar num supetão. Desaparece no corredor, mas logo regressa com um berço vazio. Volto a sentar-me. Passado um bocado volta a abrir a porta do bloco de par em par, mas desta vez o berço não está vazio. Sorri e chama-me. E foi ali, entre-portas que vi a Maria pela primeira vez. Era 00:25h. A Maria tinha nascido às 00:06.
Surreal talvez seja o melhor adjectivo para esse momento. Um misto de emoção, estranheza, de "afinal eras tu que estavas aí". O olhar é reciproco. A Maria estava de olho bem aberto, não perdendo pitada, e olhava-me com ar curioso, no mínimo. Tiro a primeira foto com o telemóvel e envio a tod@s quando aguardavam a boa nova. A enfermeira que entretanto tinha nos deixado ali no meio do corredor, volta e diz para entrar com ela numa das salas de recobro. Pergunto se posso pegar nela e diz-me que sim. Ficamos assim juntas, ela no meu colo até que vejo a Lu passar numa maca para a sala em frente. Quando o pessoal médico sai, entro com a Maria e é então que a Lu amamenta pela primeira vez a Maria, auxiliada por uma enfermeira que lhe vai dando instruções. Revejo a cena, outra vez o mesmo olhar, a Lu e a Maria como que a medirem-se, a conhecerem-se. Então ficamos sozinhas as 3, a Lu suspira, acalma o medo passado e regozija-se na bebé que teve.
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Parece tão longe, e ao mesmo tempo tão perto. Aquela bebé forte e simultaneamente tão frágil agora é uma menina, que nos surpreende com um questionário, como que a rever a lista de compras:
"Mãe e os 'pitos?"
"Os apitos estão aqui"
"Ah, boa!... Como zais xazer o baranha aqui no bolo? (ela queria um bolo do Homem Aranha)"
"Olha Maria, as mamãs não conseguem fazer o Homem Aranha"
Olhar triste, silêncio.
"Mas olha, pode ser um bolo com 3 meninas?
Sorriso ilumina-se. "SIMMMMMMMM, EEEEHHHHHHHHHHHHHH"
"E os copos mãe?"
"Estão ali, estás a ver?"
"Mãe! NÃO TEMOS PATOS!!!"
"Temos sim, olha aqui os pratos."
"Mas, mas... olha... não são do Homem Aranha. Olha, o pai do 'Cado compou patos do baranha!"
"Oh Maria, mas não havia quando nós comprámos".
"Mãe, e os 'péus?
"Os chapéus estão aqui, são do Mickey"
(silencio) "Mãe, mas e as meninas?"
"As meninas também podem por os chapéus do Mickey. Tu também gostas do Mickey!"
"A Maia gota do Mickey!... Olha, não temos colheres!"
"Temos, olha aqui."
Maria inspecciona as colheres. Antes que levantasse objecção por serem transparentes, a Lu diz:
"Olha, anda ver o que fizemos para a festa: gelatinas e pudins. Já viste que coloridos?"
Sorri de orelha a orelha "Ehhhhhhh, Obrigada mamã"
A Lu disse e dou-lhe razão. Para o ano é ela que vai organizar a festa de anos dela. Podem apostar.
12 comentários:
Que lindo viu!!!!Nessas horas o fato de a vida ter momentos tão chatos perde fácil pra beleza que é uma menina dessas, uma família dessas! Abraço!
Muito bom:) Parabéns à Maria e mamãs:)
uma historia que nos enche o coração... Parabéns para as tres
Ai...a vossa história põe-me um sorriso de orelha a orelha!.... =)))
Parabéns às 3!!!!!!!!!!!!!!!!! =)
Parabéns às três por estes três anos! :D :D
A Maria promete ser uma moça bem atenta aos pormenores :P
=) suspiro, contente. É tão bom ir lendo sobre a vossa vida. Saber da Maria, de como está a crescer feliz e saudável. De como adora as mamãs que tem.
Um dia quero ter uma família assim.
Que continuem juntinhas e felizes como até agora. E um beijinho de parabéns à pequenina!
(ps: a operação à hérnia é simples, as mamãs que não se preocupem, que vai tudo correr bem =) )
Sempre me emociono com suas historias...
bjs nas tres meninas queridas.
mineira
Ahhh e Parabéns para Mariazinha fofa!!!!
Obrigadas a todas! Foi um dia espectacular, mais tarde vou tentar postar algo.
Papoila e Orquídea, obrigada por nos tranquilizarem. Estamos serenas e confiantes. Beijos.
eu não aposto pois sei que perco...
Muitissimos parabéns à Maria e às lindas mães que têm, por tudo o que passaram para a ter nos braços.
A evolução da Maria nestes 3 anos foi fantástica, fartei-me de rir com o texto, para o ano tem mesmo de deixar a rapariga organizar a festa.
Muitos beijinhos...
Muitos parabéns às 3! :)) Aproveito para vos dizer que vai haver um encontro da AMPLOS para pais LGBT em Lisboa no dia 26 de Fev. http://amplosbo.wordpress.com/2011/02/02/familias-lgbt-elisabet-vendrell-e-merce-falguera-estarao-em-portugal-dias-26-lisboa-e-27-de-fevereiro-porto-para-falar-de-parentalidades-lgbt/
Beijinhos para todas!!
Madalena
maria carolina, perdias, pois. Onde ela vai buscar estas coisas, é que eu gostava de saber!!! Mas olha que começar já com esta idade a ser uma freak control... vá lá vai... vou já pondo de parte um dinheirinho para terapia!
SGFiltro, beijinhos para ti moça!!! e como vai o teu anjinho? Já está quase a nascer? como estás tu e o papá? nervosos? temos que nos pôr no Skipe!!!
Madalena, Obrigada pela divulgação!!! Vou colocá-la aqui em post no blog. É incrível mesmo o trabalho que a Amplos está a fazer!!! Ah, e entretanto descobri recentemente que a ILGA também já pôs a bulir um site dedicado às familias homoparentais : familias arco-iris. É só boas notícias!!!
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